Neste domingo o Mundo ou pelo menos parte dele desligou as luzes numa forma de economizar e também uma tentativa de preservação daquilo que nunca nos acostumaremos a fazer : cuidar do Planeta . Tudo muito lúdico , tudo muito correto no que inflama o indivíduo a doar a sua parcela de contribuição para essa tísica maratona promovida por alguma espécie de animador de torcida em escala maior . A princípio , manifestações como essas só dão resultado na parte boa da grande cidade , ou seja, na que funciona. No subúrbio “além mar ” adentro da cidade muito raramente aconteceria. “Suburbano não pensa em conjunto ”; “suburbano não reflete”. Só quer saber na prestação da grande televisão de plasma , uma espécie de símbolo de status entre os seus , claro . Consome, consome. “Hora do Planeta é coisa de riquinho de Zona Sul ”, diz a voz no balcão insalubre de um velho bar no centro da longínqua quase esquecida e limítrofe Pavuna . Ao ouvir tais palavras daquele homem um voluntarioso estudante sentado à mesa o repreende: “se deixarmos as luzes desligadas por uma hora todos juntos diminuiremos a incidência de poluentes e aliviaremos as usinas ”, resposta enérgica e cheia de valor moral , pelo menos ao nosso afoito aprendiz . O velho homem volta sua presença para o rapaz , se aproxima da mesa onde ele e outros de sua turma de escola ali estavam, pára e responde ao garoto : eu não preciso e nem tão pouco quero participar da tal Hora do Planeta por que sou praticamente obrigado a ficar sem luz durante horas quando chove ou às vezes por nada mesmo pela Light , portanto eu não contribuo com apenas uma horinha, eu contribuo com dias . Aquele estudante nada mais disse, doeu na pele , afinal de contas , também sofre com a péssima administração da concessionária e seus achaques e devaneios postos em prática em cada sussurro de temporal . Ele sabe que toda vez que acontece uma queda tem que desligar tudo antes do pico de luz ocorrer e consequentemente danificar algum aparelho .
Vivemos uma verdadeira falta de respeito ao que pagamos. Concessionárias que deveriam prezar pelo bom funcionamento dos seus serviços hoje nos tratam como se nada devessem. Portanto , Hora do Planeta , ou seja, lá que for não passa de falsete de algum militante ambientalista de orla que não sabe o que se passa depois do túnel onde tudo funciona, mas , precariamente. Na verdade , o que pouco se entende é que suburbano não tem é tempo (ou não o deixam participar) de brincadeiras de megas-cirandas que enquanto coisas mais importantes devem ser observadas, ficamos girando, girando e cantando, cantando músicas de roda .